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Estreias e Alternativas

O Campo Pequeno tem sido, desde sempre, um ponto de passagem obrigatória para os mais distintos nomes da tauromaquia de todos os países onde esta manifestação artística tem expressão: Seria pois difícil, ou mesmo impossível, referir o nome da totalidade dos artistas que, ao longo dos primeiros cem anos de funcionamento, se apresentaram na praça de toiros de Lisboa.

Verdadeiras dinastias de toureiros passaram por este tauródromo e aqui saborearam, tanto o mel do triunfo, como o fel do fracasso, a dor de uma colhida, ou mesmo o sofrimento da perda de um ente querido. Ao falarmos de dinastias, e se pensarmos nas de cavaleiros tauromáquicos, acodem-nos à memória a dos Casimiros, com presença nas arenas desde o terceiro quartel do século XIX até meados do século XX, Luís Lopes, Veigas, Núncio, Mascarenhas, Salgueiro e Ribeiro Telles. Recordemos aqui algumas datas a que estes nomes ficaram para sempre ligados?

Manuel Casimiro de Almeida, o iniciador da dinastia, foi o primeiro cavaleiro a tomar a alternativa na nova praça lisboeta. O facto ocorreu a 21 de Agosto de 1892, apadrinhado por Alfredo Tinoco. Seu irmão, Fernando de Almeida, também foi cavaleiro, tal como seu filho José Casimiro de Almeida. Dos dois filhos deste, Manuel Casimiro (neto) deu alternativa a seu irmão José Casimiro Júnior, a 10 de Julho de 1932, vindo este a retirar-se das arenas, já nos anos cinquenta.

António Luís Lopes, com alternativa datada de 3 de Maio de 1923, é outro dos nomes mais profundamente ligados à história desta praça e à própria história da "Arte de Marialva". Passagem efémera pelas arenas teve seu irmão Mário, com alternativa a 20 de Maio de 1927. Alberto Luís Lopes, filho de António, finalizou a participação deste apelido nas arenas, no naipe de cavaleiros. A alternativa foi-lhe concedida por seu pai, a 12 de Julho de 1942.

Particularmente interessante é o caso da dinastia Veiga, nome que ainda hoje podemos ver anunciado nos cartazes, na pessoa de Luís Miguel da Veiga, cavaleiro com 25 anos de alternativa.

Simão da Veiga (pai), distinto cavaleiro-amador e um dos mais importantes pintores portugueses do primeiro quartel do século XX, tomou alternativa a 2 de Maio de 1922, concedida por José Casimiro, e apadrinhou, a 4 de Julho seguinte, a de Simão da Veiga Júnior, cavaleiro que alcançou os maiores êxitos em Portugal, Espanha, França, Norte de África e América Latina.

Em 1966, David Ribeiro Telles "doutorou" Luís Miguel da Veiga, sobrinho-neto de Simão. Contudo, o apelido Veiga andara também pelas arenas, no final do século passado, nas pessoas de José e João Luís da Veiga (cavaleiros) e de Filipe Veiga (forcado), irmãos de Mestre Simão.

Pela competição que personificaram nas arenas, contribuído assim para um período fulgurante na renovação da "Arte de Marialva", os apelidos Veiga e Núncio são indissociáveis. João Núncio, o "Califa de Alcácer" que, em 1919 se estreou em Lisboa como cavaleiro-amador, deixou vago o lugar de maior figura de todos os tempos do toureio a cavalo. A sua alternativa, outorgada por António Luís Lopes, data de 27 de Maio de 1923. A 16 de Agosto de 1962, mestre João deu alternativa a seu filho José Barahona Núncio. No entanto, um acidente sofrido por José Núncio ao desbastar um poldro, em 1972, incapacitou-o para o toureio, impedindo-o de prolongar nas arenas os feitos de seu pai.

João Núncio teve, a 27 de Maio de 1973, a grande festa de homenagem pela passagem das "Bodas de Ouro" da sua alternativa. Foi uma corrida memorável em que o mestre proferiu uma das mais importantes lições de toureio da sua longa vida artística e "doutorou" José João Zoio. Na mesma oportunidade, o Presidente da República, Américo Tomaz, condecorou-o com a Ordem de Santiago, na presença do Presidente do Conselho de Ministros, Marcello Caetano.

Das famílias de fidalgos com maior tradição no toureio a cavalo, destaca-se a dos Mascarenhas. D. Francisco de Mascarenhas (filho de D. Alexandre), com alternativa concedida por João Núncio a 29 de Agosto de 1945 é, hoje em dia, apesar de retirado, o único representante desta família na qual houve também vários forcados, o mais célebre dos quais D. Fernando de Mascarenhas, cabo do Grupo dos Amadores de Santarém, de 1945 a 1948.

A história regista vários nomes de cavaleiros tauromáquicos descendentes dos Marqueses de Fronteira e dos Condes da Torre: D. José Maria de Mascarenhas e seus filhos, D. José de Mascarenhas. D. Carlos, D. Alexandre, D. António e D. João. D. José de Mascarenhas deixou dois filhos, D. Fernando (forcado) e D. António.

Neste longo desfilar de dinastias de cavaleiros tauromáquicos, há ainda lugar para o Salgueiro e os Telles, que mantêm os seus representantes em actividade. Na dinastia Salgueiro, iniciada por Fernando Salgueiro, a continuidade foi assegurada por seu filho, Fernando Andrade Salgueiro e pelo seu neto, João. Destes, apenas o avô tomou alternativa no Campo Pequeno, dada por João Branco Núncio, a 24 de Abril de 1938. Quanto aos Telles, o fundador, David Ribeiro Telles, encontrava-se ainda em actividade, no final do século XX, juntamente com seus filhos, João e António.

O Campo Pequeno foi também palco de apaixonada competição entre os principais cavaleiros portugueses e os rojoneadores espanhóis António Cañero e Álvaro Domecq (pai), cujas estreias se deram, respectivamente, a 29 de Abril de 1925 e a 20 de Maio de 1945.

Se para a esmagadora maioria dos cavaleiros foi ponto de honra tomar a alternativa na Praça de Toiros do Campo Pequeno, também para os grupos de forcados esta praça constitui marco importante nas suas carreiras. Várias foram as dinastias de pegadores que neste redondel escreveram páginas de extraordinária galhardia e é com grande alegria que vemos forcados de quarta geração reeditarem, nesta praça, os feitos dos seus antepassados.